Poesia e o TAO
Sou licenciada em Letras, tenho alma de professora, por isso, estou sempre tentando encontrar maneiras de explicar as coisas. Não raro, me vejo às voltas tentando traduzir conceitos de Feng Shui, complexos e simples ao mesmo tempo. A mim encantam, mas sei que são distantes da nossa cultura Ocidental e, portanto, mais abstratos. Um deles é o TAO.
A filosofia Taoísta, que dá origem ao Feng Shui, traz o conceito do TAO como fundamento. É ele que justifica, por exemplo, o uso do Ba Guá do céu anterior como amuleto e o Ba Guá do céu posterior, como ferramenta de leitura da energia de espaços físicos. Quem trabalha com essa arte, deve saber a diferença entre eles, antes de recomendar o uso a algum cliente.
O trecho abaixo, que explica o TAO, extraí de um dos meus livros de referência:
A palavra “Caminho” é tradução do ideograma chinês TAO, que dá origem à palavra Taoísmo. Caminho Constante é o Absoluto Taoísta, origem do mundo manifestado; e caminho que pode ser expresso são todas as existências do mundo manifestado. Um é a raiz de todas as manifestações; o outro, a expressão de todas estas manifestações. (Tao Te Ching: o livro do caminho e da virtude; tradução direta do chinês e comentários de Wu Jyh Cherng - Rio de Janeiro: Mauad X, 2011.)
Vem comigo porque, no final, tudo vai fazer sentido
Outro dia, estava assistindo a uma entrevista com Caetano e Carminho, sobre a nova música “Você-Você”, criada por ele para a fadista.
A certa altura da entrevista, Charles Gavin, pede a Caetano que contextualize uma estrofe da letra. Esse momento está no minuto 8:41 do vídeo abaixo, se você quiser ir direto ao ponto. (Mas eu recomendo que assista à entrevista inteira, que é deliciosa.)
À pergunta de Gavin, Caetano responde que explicar esse trecho é quase impossível porque é muito denso e radicalmente poético. Contrário à prosa, em que a palavra se explica, na poesia, cada palavra sugere muita coisa. Onde há poesia existe muito poder de síntese e muito poder sugestivo das palavras. Por isso, a tentativa de explicar a poesia acaba reduzindo as possibilidades de iterpretação.
Ouvindo Caetano, imediatamente pensei em adotar esse paralelo, entre a poesia e a prosa, para explicar o TAO.
TAO é poesia. O que deriva do TAO é prosa.
TAO é a raiz, a fonte caótica onde residem todas as possibilidades. É nesse sentido do caminho que devemos seguir, quando precisamos de inspiração. Um mergulho no vazio.
O caminho inverso, já é a manifestação, já tem forma física, imagem, símbolos, pensamentos, sentimentos, sons, palavras ou gestos, que juntos representam todas as linguagens do mundo manifestado. Ou seja, nesse sentido, seremos sempre menos originais.
A inspiração, vem de uma fonte intocada. Ainda não manifestada e, portanto, criativa.
Eu sei, eu sei, hoje o texto está mais etéreo. Mas a criação é isso. Parte do vazio para as 10 mil coisas. Isso é o TAO.
Até pra semana!
Bj Bj
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