Qual a sua maior dificuldade para criar espaços vazios?

O importante não é
a casa onde moramos.
Mas onde, em nós,
a casa mora.
— Mia Couto "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra"

Há alguns dias, fiz essa pergunta nas minhas redes sociais. Apenas a metade estava disposta a fazê-lo. E, entre tantas dificuldades apontadas, o apego foi a maior razão.

E como nada acontece por acaso, ontem, relembrei essa frase do Mia Couto, durante uma imersão com @acasacomvida (uma das escolas onde fiz especializações em organização).

Todas as casas em que vivemos, deixam marcas em nós e também nelas deixamos as nossas. Podemos desapegar de objetos, de casas e ainda assim, as marcas ficarão em nós. Isso significa que para onde o rio da nossa vida nos levar essas casas e a memória dos seus objetos e vivências seguirão conosco. 

Lembro o período difícil, no início da pandemia, em que cheguei a Lisboa e os objetos, que decidi trazer, ficaram presos no Brasil, durante os 7 meses em que vivi com uma mala de bordo. Tá certo que ninguém precisava de muita roupa nesse período, mas eu estava longe do meu país, da minha família, amigos e de todos os objetos que enraizavam meus 54 anos de vida.

Alguns dos poucos objetos que vieram na mala de mão. O vaso é uma garrafa de molho de tomate, em que improvisei um ramo de árvore encontrado num passeio.

Alguns dos poucos objetos que vieram na mala de mão. O vaso é uma garrafa de molho de tomate, em que improvisei um ramo de árvore encontrado num passeio.

Mas sabem de uma coisa, sobrevivi com as minhas lembranças e os poucos vestígios que couberam na mala de mão.

Muitas vezes me perguntava: pra quê mesmo resolvemos embarcar essas 77 caixas?! Descobrir-se livre do peso físico é maravilhoso, pois as lembranças são leves e nos acompanham até o cabo do mundo. E a casa que vive em nós vai se materializando novamente, pois a essência está dentro de nós e não nas coisas.

❓Você já pensou nisso?

 Bj Bj


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