Inteligência artificial
Tenho uma lembrança sensorial, quase absoluta, do meu primeiro ano de escola. Na altura chamava-se pré-escola ou “prézinho”.
A primeira, e talvez a mais forte, seja a memória olfativa. O material escolar tinha um perfume que ainda sou capaz de identificar. Uma mistura do cheiro da madeira dos lápis de cor com o plástico quadriculado, vermelho e branco, que meu pai usava para encapar, caprichosamente, meus caderninhos.
A merenda do recreio, que minha mãe organizava na lancheira cor-de-rosa, está gravada na memória gustativa. Pão (porque meu pai tinha padaria e pão nunca faltava) tipo bisnaguinha, com manteiga, suco e uma fruta. Sempre tinha uma fruta…e nada de chocolates.
Lanchávamos dentro da sala de aula, cada um na sua mesinha. Depois brincávamos, no recreio, separados dos alunos mais velhos. Para a minha estatura infantil, o pátio era muito, muito grande e cheio de árvores. Havia uma gruta, com lago e peixinhos. Apreciar todas essas distrações, muito bem cuidadas pelas freiras, era uma delícia.
Também lembro da roda. Todos sentadinhos de pernas cruzadas, em cima de um círculo amarelo pintado no chão, ouvindo e cantando junto com a professora Marilda que tocava piano. Sim, havia um piano na sala.
A cera que cobria o chão de madeira era tão espessa e lustrosa que desenhávamos, com a unha, pequenas casinhas, arrancando bocados dessa pasta. Coisa de criança, que chegava no final do dia com as unhas sujas de cera, mas a alma preenchida de vida.
Muitos anos mais tarde, descobri que o método utilizado era Montessori. Tive a sorte de iniciar a vida escolar dentro dessa filosofia, que ressoa em mim até hoje. A escolha dos materiais pedagógicos é importante para ajudar no desenvolvimento do conhecimento e pensamento abstrato das crianças. Por isso, são materiais que as crianças poderem pegar com as mãos, feitos a partir de madeira ou metal, por exemplo, que estimulam a aprendizagem através dos sentidos e da experimentação, de forma progressiva.
E o que a inteligência artificial tem a ver com isso?
Esse tema vem me atravessando quase todos os dias. Provoca um certo receio de como estamos preparados para essa revolução tecnológica, sem perder nossa natureza humana. Quais competências teremos de desenvolver durante os anos de aprendizagem que se seguem?
O que nos distancia das máquinas é justamente o sentir. Todas as iniciativas que promovam sentimentos, sensações, habilidades emocionais e criativas, penso que devam estar no topo das grades curriculares, daqui em diante, e por períodos mais longos do que apenas a pré-escola.
A vida adulta vai nos distanciando dessa curiosidade natural e precisamos de disciplina para nos manter conectados a algum fio dessas habilidades essencialmente humanas.
É possivel utilizar a inteligência artificial para impulsionar o processo criativo, mas o sentimento que provoca o desejo de criar sempre será humano.
O que você tem feito nesse sentido?
Caminhar na natureza, sentir seus perfumes, texturas, cores. Arrepiar-se com o vento mais frio ou a água fresca de um rio. São sensações que nenhuma máquina poderá experimentar para, a partir desses estímulos, inspirar a criação de casas, poesia, música, pintura, pratos. Essa é a beleza de ser humano.
Até pra semana!
Bj Bj
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